segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

O Sari

Por motivos de força maior, estou lendo um livro sobre a relação da mulher indiana com a sua roupa mais significativa, o sari. O livro se chama "The Sari", dos autores MUKULIKA BANERJEE (indiana) e DANIEL MILLER. Nossa que livro bom!

Fala da presença do sari por toda a vida da mulher, a importância da relação que ela estabelece com ele desde a primeira vez que o usa, e tal.


"Outras roupas estão sobre você, mas não com você. Mas o sari está comigo." - Deena Pathak, atriz

Ainda tô na metade dele, mas é fascinante ver o papel importante dessa roupa na vida delas, e também ver as semelhanças que têm com nós, ocidentais. Aqui vão alguns tópicos que achei interessantes (pros leigos, pallu é a parte que recai sobre os ombros, mais decorada) :

O sari, por sua assimetria, proporciona diferentes sensações nas diferentes partes do corpo: pressão, calor, umidade, coceira, frescor etc.


O sari é considerado um objeto "animado", metaforicamente: ele move-se por sua própria vontade; é "alimentado" com a goma de amido de arroz; envelhece e "morre" como uma pessoa.

Os inúmeros movimentos e posições que se pode fazer com o pallu o tornam um elemento importantíssimo para atrizes de novelas, séries, filmes e teatro indianos.

A maioria dos indianos têm seu primeiro encontro com o pallu na infância: mães e avós usam esta parte do sari como fralda para limpar a boca do bebê, como cobertor ao ninar a criança; a criança desenvolve uma relação de 'segurança' com o pallu.

O contato físico entre homens e mulheres em público é visto com maus-olhos. Até após casar-se, não andam na rua de mãos dadas. O pallu representa uma forma de o casal poder 'se tocar', mesmo que indiretamente. É um meio de ligação (há a expressão 'grudar-se no pallu do outro'). Essa ligação é enfatizada na ocasião do casamento, quando a noiva amarra seu pallu no dhoti (calça drapeada) de seu marido. As profissionais do sexo não gostam quando seus clientes tocam em seu pallu; para ela, esta parte estaria reservada para seus maridos.

Mais alguns usos cotidianos do pallu: segurar travessas quentes; limpar assentos; bolsa para compras ou porta-dinheiro; prender chaves; limpar suor do rosto; proteger da fumaça; proteger do sol.

Em alguns casos, as recém-casadas infelizes se penduram pelo pallu, enforcando-se.

O armário ou baú de uma indiana refletem as suas múltiplas personalidades, e cada peça evoca lembranças, como quem lhe deu aquele sari ou com quem ou em que ocasiões ela o usou.
Nos apartamentos das cidades, um dos primeiros móveis que a mulher investe é o armário 'almirah'. De metal e vedado, protege seus bens mais preciosos de cupins e inundações das monções.

As escolhas são baseadas não só no gosto pessoal, mas também podem ser previstas dependendo da posição social e do histórico cultural. Principalmente em áreas rurais, há regras para cada sub-casta ou grupo.
As mesmas preocupações e 'desesperos' que algumas ocidentais sentem ao olhar seu armário e achar que não têm nada para vestir passam pela cabeça das indianas. Também como as ocidentais, as indianas evitam aparecer com a mesma roupa repetidas vezes num mesmo local ou ocasião. Isso motiva uma troca entre irmãs, mães e filhas, amigas, que é possibilitada pela natureza não-ajustada do sari ('tamanho único').


Assistir às mães colocar o sari constitui uma memória fascinante para as crianças pequenas.

A primeira vez que a jovem usa o sari é vista como um rito de passagem. Nas cidades, a ocasião é celebrada na formatura da escola, quando as meninas têm por volta de dezessete anos. Para elas, é uma experiência tanto excitante quanto enervante.


Entre as mulheres, são comuns as críticas ao vestir alheio. Principalmente às jovens, vindas de familiares, como tias e primas mais velhas. Também no ambiente acadêmico (faculdades e centros de estudo) esse ambiente crítico permanece, ainda que não seja revelado claramente, como acontece nas famílias.

A habilidade que as moças demonstram ao manusear as pregas e a grande quantidade de tecido é como uma amostra da habilidade necessária a elas nas situações que enfrentará na vida adulta.

Nas primeiras vezes contam com a ajuda de suas mães, tias e até vizinhas. Há também profissionais especializadas em amarrar saris para festas. São mulheres com talento especial para interpretar e adaptar tendências e amarrações aos diferentes corpos das clientes (preços variam de 200 a 250 Rs).
Para entender a importância do aprendizado do uso do sari, podemos compará-lo ao do aprender a dirigir: sente-se uma mudança na noção de idade, mais adulta, com todas as novas liberdades, capacidades, dificuldades e medos. Além disso, ambos acontecem ao olho público, e a competência - ou falta dela - está aberta à avaliação e crítica. Também há o mesmo envolvimento da família, o mesmo orgulho e medo dos pais, a mesma ajuda dos vizinhos, amigos e parentes que ajudam a jovem a aperfeiçoar suas habilidades.

Uma mulher vista sem o sari, mas ainda com o petticoat (anágua) e o choli (blusa justa), é considerada nua. No cinema, a possibilidade de o sari cair ou se desfazer é explorada como situação de sedução. Mesmo antes dos filmes, as imagens icônicas das deusas já exibiam sua sensualidade.

A habilidade de brincar com o sari, incitando sensualidade, não é privilégio das mulheres. Os hijras, em sua maioria hermafroditas, se apresentam em casamentos e nascimentos. Sua presença não é combinada, mas já é esperada pelos presentes. Ali se apresentam com música e dança e sua apresentação deve ser devidamente recompensada, caso contrário, eles ameaçam levantar seus saris e mostrar suas partes íntimas incomuns. Seu pagamento pode chegar a centenas de rúpias.

Assim como no ocidente, os meninos ficam ansiosos sobre a primeira vez que tirarão um sutiã, na Índia o alvo de preocupações é o sari. Mas não é difícil, segundo um depoimento, é só levantar a parte de baixo e abaixar a parte de cima, deixando o sari intacto no meio do corpo.


O tecido é tido com grande estima na cultura indiana, por isso o sari é um ótimo presente para noivas e recém-casadas. Nos dias anteriores ao casamento, os pais dos noivos devem presentear com saris as mulheres importantes da família.

A possibilidade de não usar sari após o casamento só existe nas cidades; em áreas rurais, a noiva não tem escolha.

Ao entrar em casa, para fazer as tarefas domésticas, a mulher precisa trocar de sari. Em Bengal e outras regiões, a troca de toda a roupa também é feita após usar o banheiro.

Nenhum comentário:

Postar um comentário