doce princesa, entre no amor como numa vida eterna"
Shiva começa com o amor. A primeira técnica está relacionada com o amor, pois na sua experiência o amor é a coisa mais próxima na qual você se relaxa. Se você não puder amar, é impossível para você relaxar. Se você puder relaxar, sua vida se tornará uma vida amorosa.
Uma pessoa tensa não pode amar. Por que? Uma pessoa tensa sempre vive com propósitos. Ela pode ganhar dinheiro, mas não pode amar, pois o amor não tem propósito; o amor não é uma comodidade, não se pode acumulá-lo, fazer um saldo bancário dele, fortalecer o seu ego a partir dele.
Em realidade, o amor é o ato mais absurdo - sem significado ou propósito além dele próprio. Ele existe em si mesmo, e não para qualquer outra coisa.
Você ganha dinheiro para algo; o dinheiro é um meio. Você faz uma casa, constrói uma casa para algo, para viver nela; ela é o meio. o amor não é o meio. Por que você ama? Para que você ama? O amor é o fim em si mesmo. É por isso que uma mente calculista e lógica, que pensa em termos de propósito, não pode amar. E uma mente que sempre pensa em termos de propósito será tensa, porque o propósito somente pode ser preenchido no futuro, e nunca aqui e agora.
Você constrói uma casa...você não pode morar nela agora mesmo; primeiro você precisa construí-la. Você pode morar nela no futuro, e não agora. Você ganha dinheiro; o saldo bancário será criado no futuro, e não agora. O meio você terá que usar agora, e o fim virá no futuro. O amor está sempre aqui; não há futuro para ele. É por isso que o amor é tão próximo da meditação, e também a morte é tão próxima da meditação - pois a morte está sempre aqui e agora, e nunca pode acontecer no futuro. Você pode morrer no futuro? Você pode morrer somente no presente; ninguém jamais morreu no futuro. Como você pode morrer no futuro ou no passado? O passado se foi, ele não está mais presente, então você não pode morrer nele. o futuro ainda não veio, então como você pode morrer nele? A morte sempre ocorre no presente.
Morte, amor, meditação, todos eles ocorrem no presente. Assim, se você estiver com medo da morte, você não poderá amar. Se você estiver com medo do amor, você não poderá meditar. Se você estiver com medo da meditação, sua vida será vã - vã não no sentido de qualquer propósito, mas no sentido de que você nunca poderá sentir alguma bem-aventurança nela...fútil.
Pode parecer estranho conectar estes três: amor, meditação e morte. Mas não é estranho. Eles são experiências semelhantes. Assim, se você puder entrar em um, poderá entrar nos dois restantes.
Shiva começa com o amor. Ele diz:
“Enquanto estiver sendo acariciada, amada, doce princesa, entre no carinho, no amor, como numa vida eterna”.
O que significa isso? Muitas coisas. Uma, enquanto você for amada, o passado cessa e o futuro não existe. Você se move na dimensão do presente, no agora. Você já amou alguém? Se já amou, então a mente não está mais presente. É por isso que os pretensos sábios dizem que os amantes são cegos, insensatos, loucos. Num sentido eles estão certos. Os que amam são cegos, pois não tem olhos para o futuro a fim de calcular o que estão fazendo. Eles são cegos! E não podem ver o passado. O que acontece aos que amam? Eles simplesmente se movem para o aqui e agora sem qualquer consideração pelo passado, pelo futuro ou pelas conseqüências; é, por isso que eles são chamados de cegos. Eles são cegos, cegos para aqueles que são calculistas, e são videntes para aqueles que não são calculistas. Aqueles que não são calculistas verão o amor como o olho real, e a visão real.
Assim, a primeira coisa: no momento do amor, o passado e futuro não estão presentes. Um ponto delicado a ser compreendido: quando não existe passado ou futuro, você pode chamar este momento de presente? Ele é o presente somente entre estes dois - passado e futuro. Ele é relativo. Se não houver passado ou futuro, o que significa chamá-lo de presente? Não tem sentido, e é por isso que Shiva não usa a palavra "presente". Ele diz "vida eterna" - eternidade, entrar na eternidade.
Dividimos o tempo em três: passado, presente e futuro. Essa divisão é falsa, absolutamente falsa. O tempo é realmente passado e futuro. O presente não é parte do tempo, e sim da eternidade. Aquilo que passou é tempo, aquilo que está por vir é tempo. Aquilo que é não é tempo, pois ele nunca passa, ele sempre existe. O agora está sempre aqui - ele está sempre aqui. Este agora é eterno.
Se você se mover a partir do passado, você nunca entrará no presente. Do passado você sempre entra no futuro. Não chega nenhum momento que seja o presente. Do passado você sempre entra no futuro. Do presente você nunca pode entrar no futuro; do presente você vai fundo, e fundo... E mais presente, e mais presente...Isso é vida eterna.
Podemos dizê-lo desta maneira: do passado para o futuro é tempo. Tempo significa que você se move sobre o plano, numa linha reta, ou podemos dizer que ele é horizontal. No momento em que você estiver no presente, a dimensão mudará. Você se moverá verticalmente - para cima ou para baixo, em direção à altura ou à profundeza. Mas então você nunca se moverá horizontalmente. Um Buda e um Shiva vivem na eternidade, e não no tempo.
Perguntaram a Jesus: "O que acontecerá em seu Reino de Deus?" A pessoa que Ihe perguntou não estava perguntando sobre o tempo, mas sobre o que iria acontecer com os seus desejos: "Como eles serão satisfeitos? Haverá vida eterna ou a morte? Haverá alguma miséria? Haverá pessoas inferiores e superiores?" Ele estava perguntando coisas deste mundo: "O que acontecerá em seu Reino de Deus?"
E Jesus respondeu - a resposta é semelhante a de um monge Zen...Jesus disse: "Não haverá mais o tempo”.A pessoa pode não ter entendido nada, uma resposta desta: "Não haverá mais o tempo”.Jesus disse somente uma coisa: "Não haverá mais o tempo", pois o tempo é horizontal e o Reino de Deus é vertical, é eterno; ele está sempre aqui; somente você precisa se afastar do tempo para entrar nele.
Assim, o amor é a primeira porta...você pode se afastar do tempo. É por isso que todos desejam ser amados e desejam amar. E ninguém sabe porque existe tanta importância no amor, porque tanto anseio profundo por ele. E a menos que você o conheça corretamente, você não pode nem amar nem ser amado, pois o amor é um dos fenômenos mais profundos sobre esta terra.
Insistimos em achar que cada um é capaz de amar como ele é, mas esse não é o caso, não é assim. É por isso que você se frustará. O amor é uma dimensão diferente, e se você tentar amar alguém no tempo, você será derrotado em seu esforço. No tempo, o amor é impossível.
Lembro-me de uma história:
Meera estava apaixonada por Krishna; ela era casada, a esposa de um príncipe. O príncipe ficou com ciúme de Krishna, o qual já não existia, não estava presente, não era um corpo físico. Havia um intervalo de cinco mil anos entre a existência física de Krishna e a de Meera. Assim, realmente, como Meera poderia estar apaixonada por Kríshna? O intervalo de tempo era grande demais!
Um dia o seu marido, o príncipe, perguntou a Meera: "Você fica falando sobre o seu amor, fica dançando e cantando à volta de Krishna, mas onde ele está? Por quem você está tão apaixonada? Com quem você fala continuamente?"
Meera estava conversando com Krishna, cantando, rindo, discutindo. Ela parecia louca! Aos nossos olhos era louca. Portanto, o príncipe disse: "Você ficou louca? Onde está o seu Krishna? A quem você está amando? Com quem você está conversando? E estou aqui, e você me esqueceu completamente."
Meera disse: "Krishna está aqui, e você não está aqui, pois Krishna é eterno e você não é. Ele estará sempre aqui, ele esteve sempre aqui, ele está aqui. Você não estará aqui, você não esteve aqui, você não esteve um dia e não estará aqui...assim, como posso acreditar que entre essas duas não-existências você esteja aqui? Como a existência é possível entre duas nâo-existências?"
O príncipe está no tempo e Krishna está na eternidade. Dessa maneira, pode-se estar perto do príncipe, mas a distância não pode ser destruída; você estará distante. No que se refere ao tempo, você pode estar muitíssimo distante de Krishna, mesmo assim pode estar próximo. Mas essa é uma dimensão diferente. Olho à minha frente e há uma parede; movo os meus olhos e há o céu. Quando você olha no tempo, sempre existe uma parede; quando você olha além do tempo, existe um céu aberto, infinito. O amor abre a infinidade, a eternidade da existência. Assim, realmente, se você já amou, o amor pode ser transformado numa técnica de meditação. Esta é a técnica: "Enquanto estiver sendo amada, doce princesa, entre no amor como numa vida eterna."
Não seja um amante que fica à distância, do lado de fora. Torne-se amoroso e penetre na eternidade. Quando você está amando alguém, você está ali como o amante? Se você estiver ali, você está no tempo e o amor é simplesmente falso, pseudo. Se você ainda estiver ali e puder dizer "eu sou", então você poderá estar próximo fisicamente, mas espiritualmente vocês são pólos à parte.
Enquanto no amor, você não deve ser - somente o amor, a amorosidade. Torne-se o amor! Ao acariciar o ser amado, torne-se a carícia. Ao beijar, não seja aquele que beija ou que é beijado; seja o beijo! Esqueça-se completamente do ego, dissolva-o no ato. Penetre tão profundamente no ato a ponto do ator não estar mais presente. E se você não puder penetrar no amor, é difícil penetrar no comer ou no caminhar - muito difícil, pois o amor é a abordagem mais fácil para dissolver o ego. É por isso que os egoístas não podem amar. Eles podem falar, cantar e escrever a respeito, mas não podem amar. O ego não pode amar.
Shiva diz para se tornar o amor. Quando você está abraçando, torne-se o abraço, o beijo. Esqueça tão completamente de você mesmo a ponto de poder dizer: "Eu não existo mais; somente o amor existe”.Então o coração não estará palpitando, mas o amor estará; então o sangue não estará circulando, mas o amor estará; então os olhos não estarão enxergando, mas o amor estará; então as mãos não estarão se movendo para tocar, mas o amor estará.
Tome-se o amor! E entre na vida eterna. O amor de repente muda a sua dimensão; você é lançado para fora do tempo e se defronta com a eternidade.
O amor pode se tornar uma meditação profunda, a mais profunda possível. E algumas vezes os que amam conhecem o que os santos não conheceram. Os que amam tocaram aquele centro que muitos iogues não alcançaram. Mas será apenas um vislumbre, a menos que você transforme o seu amor em meditação. O Tantra significa isto: transformação do amor em meditação. E agora você pode entender porque o Tantra fala tanto sobre o amor e o sexo. Por que? Porque o amor é a porta natural mais fácil a partir da qual você pode transcender este mundo, esta dimensão horizontal.
Olhe para Shiva com a sua consorte. Devi. Olhe para eles! Eles não parecem ser dois; eles são unos. A unidade é tão profunda que penetrou até nos símbolos. Todos nós vimos o Shivalinga; este é um símbolo fálico - o órgão sexual de Shiva. Mas ele não está sozinho, e sim enraizado na vagina de Devi. Os hindus daqueles dias eram muito ousados. Agora, quando você vê um Shivalinga, você nunca se lembra de que ele é um símbolo fálico. Nós nos esquecemos, tentamos esquecer completamente Jung se lembra em sua autobiografia, em suas memórias, de um incidente muito belo e engraçado.
Ele veio à Índia e foi ver Konarak, e no templo de Konarak há muitos e muitos Shivalingas, muitos símbolos fálicos. O erudito que o estava levando Ihe explicou tudo, menos sobre os Shivalingas. E eles eram tantos que era difícil escapar. Jung estava bem ciente, mas apenas para amolar o erudito, ficava perguntando: "Mas o que são esses aqui?" Assim, finalmente o erudito disse no ouvido de Jung: "Não me pergunte aqui; eu Ihe direi mais tarde. Esse é um assunto privado”.Jung deve ter rido por dentro. Esses são os hindus de hoje.
Então, fora do templo o erudito chegou bem perto e disse: "Você não deveria ter perguntado diante dos outros. Eu Ihe direi agora; esse é um segredo”.E ele disse, novamente no ouvido de Jung: "Eles são nossas partes íntimas”.
Quando Jung voltou, ele encontrou um grande estudioso - um estudioso do pensamento, do mito e da filosofia oriental -, Heinrich Zimmer. Assim, ele contou essa história a Zimmer. Zimmer era uma das mentes mais bem dotadas que tentou penetrar no pensamento indiano, e era um admirador da Índia e de seus caminhos do pensamento - o oriental, o ilógico, a abordagem mística em relação à vida.
Quando ele ouviu isso de Jung, ele riu e disse: "Isso é bom para variar. Sempre ouvi sobre grandes indianos - Buda, Krishna, Mahavira... O que você relata nada diz a respeito de qualquer grande indiano, mas a respeito dos indianos."
Para Shiva, o amor é a grande porta. E para ele, o sexo também não é algo a ser condenado, e sim a semente, e o amor o seu florescimento. E se você condenar a semente, você condenará a flor. O sexo pode se tornar amor, e se ele nunca se tornar amor, então ele estará aleijado. Condene o aleijamento, e não o sexo. O amor deve florescer; o sexo deve se tornar amor. Se ele não estiver se tornando, não será falha do sexo, mas a sua falha.
O sexo não deve permanecer sexo - este é o ensinamento do Tantra -, ele deve ser transformado em amor. E o amor também não deve permanecer amor, e sim ser transformado em luz, na experiência meditativa, no último e supremo cume místico. Como transformar o amor? Seja o ato e se esqueça do ator. Ao amar, seja o amor - o simples amor. Então, não é o seu amor, o meu amor ou o amor de alguém mais. Ele é o simples amor. Quando você não está ali, então está nas mãos da fonte, da corrente suprema, então você está no amor. Não é você que está no amor; então o amor o tragou, você desapareceu e se tornou apenas uma energia fluindo.
D. H. Lawrence, uma das mentes mais criativas desta época, quer soubesse ou não, era um adepto do Tantra. Ele foi completamente condenado no Ocidente; seus livros foram excomungados e houve muitos casos nos tribunais, pois ele disse que a energia do sexo é a única energia, e se você a condenar e a suprimir, você estará contra o universo e nunca será capaz de conhecer o florescimento superior desta energia.
E quando suprimido, ele se torna feio. Este é o círculo vicioso: sacerdotes, moralistas, pretensos religiosos, papas, shankaracharyas e outros, eles insistem em condenar o sexo. Eles dizem que essa é uma coisa feia. Quando você o suprime, ele se torna feio, então eles dizem. Ve a O que dissemos é verdade, está provado por você mesmo. Veja! Tudo o que você está fazendo é feio, e você sabe que é feio "
Mas não é o sexo que é feio, e sim esses sacerdotes que o tornaram feio. E uma vez que o tornaram feio, eles provam estarem certos. E quando eles provam estarem certos, você continua a torná-lo cada vez mais feio.
O sexo é energia inocente, a vida fluindo em você, a existência viva em você. Não o mutile; permita que ele se mova em direção às alturas - isto é, o sexo deve se tornar amor. Qual é a diferença?
Quando a sua mente é sexual, você explora o outro. O outro é simplesmente um instrumento para ser usado e jogado fora. Quando o sexo se toma amor, o outro não é um instrumento, não é para ser explorado, não é realmente o outro. Quando você ama, o amor não é autocentrado; em vez disso, o outro se torna importante, ímpar. Não é que você esteja explorando - não. Pelo contrário, ambos estão unidos numa experiência profunda. Vocês são parceiros de uma experiência profunda, e não o explorador e o explorado. Vocês estão se ajudando a entrar num mundo diferente, o do amor. O sexo é exploração, e o amor é entrar juntos num mundo diferente.
Se esse movimento não for momentâneo e se tornar meditativo, isto é, se você puder esquecer completamente de si, e a pessoa amada desaparecer e houver somente o amor fluindo, então, Shiva diz, a vida eterna é sua.
HARE OM.
Uma pessoa tensa não pode amar. Por que? Uma pessoa tensa sempre vive com propósitos. Ela pode ganhar dinheiro, mas não pode amar, pois o amor não tem propósito; o amor não é uma comodidade, não se pode acumulá-lo, fazer um saldo bancário dele, fortalecer o seu ego a partir dele.
Em realidade, o amor é o ato mais absurdo - sem significado ou propósito além dele próprio. Ele existe em si mesmo, e não para qualquer outra coisa.
Você ganha dinheiro para algo; o dinheiro é um meio. Você faz uma casa, constrói uma casa para algo, para viver nela; ela é o meio. o amor não é o meio. Por que você ama? Para que você ama? O amor é o fim em si mesmo. É por isso que uma mente calculista e lógica, que pensa em termos de propósito, não pode amar. E uma mente que sempre pensa em termos de propósito será tensa, porque o propósito somente pode ser preenchido no futuro, e nunca aqui e agora.
Você constrói uma casa...você não pode morar nela agora mesmo; primeiro você precisa construí-la. Você pode morar nela no futuro, e não agora. Você ganha dinheiro; o saldo bancário será criado no futuro, e não agora. O meio você terá que usar agora, e o fim virá no futuro. O amor está sempre aqui; não há futuro para ele. É por isso que o amor é tão próximo da meditação, e também a morte é tão próxima da meditação - pois a morte está sempre aqui e agora, e nunca pode acontecer no futuro. Você pode morrer no futuro? Você pode morrer somente no presente; ninguém jamais morreu no futuro. Como você pode morrer no futuro ou no passado? O passado se foi, ele não está mais presente, então você não pode morrer nele. o futuro ainda não veio, então como você pode morrer nele? A morte sempre ocorre no presente.
Morte, amor, meditação, todos eles ocorrem no presente. Assim, se você estiver com medo da morte, você não poderá amar. Se você estiver com medo do amor, você não poderá meditar. Se você estiver com medo da meditação, sua vida será vã - vã não no sentido de qualquer propósito, mas no sentido de que você nunca poderá sentir alguma bem-aventurança nela...fútil.
Pode parecer estranho conectar estes três: amor, meditação e morte. Mas não é estranho. Eles são experiências semelhantes. Assim, se você puder entrar em um, poderá entrar nos dois restantes.
Shiva começa com o amor. Ele diz:
“Enquanto estiver sendo acariciada, amada, doce princesa, entre no carinho, no amor, como numa vida eterna”.
O que significa isso? Muitas coisas. Uma, enquanto você for amada, o passado cessa e o futuro não existe. Você se move na dimensão do presente, no agora. Você já amou alguém? Se já amou, então a mente não está mais presente. É por isso que os pretensos sábios dizem que os amantes são cegos, insensatos, loucos. Num sentido eles estão certos. Os que amam são cegos, pois não tem olhos para o futuro a fim de calcular o que estão fazendo. Eles são cegos! E não podem ver o passado. O que acontece aos que amam? Eles simplesmente se movem para o aqui e agora sem qualquer consideração pelo passado, pelo futuro ou pelas conseqüências; é, por isso que eles são chamados de cegos. Eles são cegos, cegos para aqueles que são calculistas, e são videntes para aqueles que não são calculistas. Aqueles que não são calculistas verão o amor como o olho real, e a visão real.
Assim, a primeira coisa: no momento do amor, o passado e futuro não estão presentes. Um ponto delicado a ser compreendido: quando não existe passado ou futuro, você pode chamar este momento de presente? Ele é o presente somente entre estes dois - passado e futuro. Ele é relativo. Se não houver passado ou futuro, o que significa chamá-lo de presente? Não tem sentido, e é por isso que Shiva não usa a palavra "presente". Ele diz "vida eterna" - eternidade, entrar na eternidade.
Dividimos o tempo em três: passado, presente e futuro. Essa divisão é falsa, absolutamente falsa. O tempo é realmente passado e futuro. O presente não é parte do tempo, e sim da eternidade. Aquilo que passou é tempo, aquilo que está por vir é tempo. Aquilo que é não é tempo, pois ele nunca passa, ele sempre existe. O agora está sempre aqui - ele está sempre aqui. Este agora é eterno.
Se você se mover a partir do passado, você nunca entrará no presente. Do passado você sempre entra no futuro. Não chega nenhum momento que seja o presente. Do passado você sempre entra no futuro. Do presente você nunca pode entrar no futuro; do presente você vai fundo, e fundo... E mais presente, e mais presente...Isso é vida eterna.
Podemos dizê-lo desta maneira: do passado para o futuro é tempo. Tempo significa que você se move sobre o plano, numa linha reta, ou podemos dizer que ele é horizontal. No momento em que você estiver no presente, a dimensão mudará. Você se moverá verticalmente - para cima ou para baixo, em direção à altura ou à profundeza. Mas então você nunca se moverá horizontalmente. Um Buda e um Shiva vivem na eternidade, e não no tempo.
Perguntaram a Jesus: "O que acontecerá em seu Reino de Deus?" A pessoa que Ihe perguntou não estava perguntando sobre o tempo, mas sobre o que iria acontecer com os seus desejos: "Como eles serão satisfeitos? Haverá vida eterna ou a morte? Haverá alguma miséria? Haverá pessoas inferiores e superiores?" Ele estava perguntando coisas deste mundo: "O que acontecerá em seu Reino de Deus?"
E Jesus respondeu - a resposta é semelhante a de um monge Zen...Jesus disse: "Não haverá mais o tempo”.A pessoa pode não ter entendido nada, uma resposta desta: "Não haverá mais o tempo”.Jesus disse somente uma coisa: "Não haverá mais o tempo", pois o tempo é horizontal e o Reino de Deus é vertical, é eterno; ele está sempre aqui; somente você precisa se afastar do tempo para entrar nele.
Assim, o amor é a primeira porta...você pode se afastar do tempo. É por isso que todos desejam ser amados e desejam amar. E ninguém sabe porque existe tanta importância no amor, porque tanto anseio profundo por ele. E a menos que você o conheça corretamente, você não pode nem amar nem ser amado, pois o amor é um dos fenômenos mais profundos sobre esta terra.
Insistimos em achar que cada um é capaz de amar como ele é, mas esse não é o caso, não é assim. É por isso que você se frustará. O amor é uma dimensão diferente, e se você tentar amar alguém no tempo, você será derrotado em seu esforço. No tempo, o amor é impossível.
Lembro-me de uma história:
Meera estava apaixonada por Krishna; ela era casada, a esposa de um príncipe. O príncipe ficou com ciúme de Krishna, o qual já não existia, não estava presente, não era um corpo físico. Havia um intervalo de cinco mil anos entre a existência física de Krishna e a de Meera. Assim, realmente, como Meera poderia estar apaixonada por Kríshna? O intervalo de tempo era grande demais!
Um dia o seu marido, o príncipe, perguntou a Meera: "Você fica falando sobre o seu amor, fica dançando e cantando à volta de Krishna, mas onde ele está? Por quem você está tão apaixonada? Com quem você fala continuamente?"
Meera estava conversando com Krishna, cantando, rindo, discutindo. Ela parecia louca! Aos nossos olhos era louca. Portanto, o príncipe disse: "Você ficou louca? Onde está o seu Krishna? A quem você está amando? Com quem você está conversando? E estou aqui, e você me esqueceu completamente."
Meera disse: "Krishna está aqui, e você não está aqui, pois Krishna é eterno e você não é. Ele estará sempre aqui, ele esteve sempre aqui, ele está aqui. Você não estará aqui, você não esteve aqui, você não esteve um dia e não estará aqui...assim, como posso acreditar que entre essas duas não-existências você esteja aqui? Como a existência é possível entre duas nâo-existências?"
O príncipe está no tempo e Krishna está na eternidade. Dessa maneira, pode-se estar perto do príncipe, mas a distância não pode ser destruída; você estará distante. No que se refere ao tempo, você pode estar muitíssimo distante de Krishna, mesmo assim pode estar próximo. Mas essa é uma dimensão diferente. Olho à minha frente e há uma parede; movo os meus olhos e há o céu. Quando você olha no tempo, sempre existe uma parede; quando você olha além do tempo, existe um céu aberto, infinito. O amor abre a infinidade, a eternidade da existência. Assim, realmente, se você já amou, o amor pode ser transformado numa técnica de meditação. Esta é a técnica: "Enquanto estiver sendo amada, doce princesa, entre no amor como numa vida eterna."
Não seja um amante que fica à distância, do lado de fora. Torne-se amoroso e penetre na eternidade. Quando você está amando alguém, você está ali como o amante? Se você estiver ali, você está no tempo e o amor é simplesmente falso, pseudo. Se você ainda estiver ali e puder dizer "eu sou", então você poderá estar próximo fisicamente, mas espiritualmente vocês são pólos à parte.
Enquanto no amor, você não deve ser - somente o amor, a amorosidade. Torne-se o amor! Ao acariciar o ser amado, torne-se a carícia. Ao beijar, não seja aquele que beija ou que é beijado; seja o beijo! Esqueça-se completamente do ego, dissolva-o no ato. Penetre tão profundamente no ato a ponto do ator não estar mais presente. E se você não puder penetrar no amor, é difícil penetrar no comer ou no caminhar - muito difícil, pois o amor é a abordagem mais fácil para dissolver o ego. É por isso que os egoístas não podem amar. Eles podem falar, cantar e escrever a respeito, mas não podem amar. O ego não pode amar.
Shiva diz para se tornar o amor. Quando você está abraçando, torne-se o abraço, o beijo. Esqueça tão completamente de você mesmo a ponto de poder dizer: "Eu não existo mais; somente o amor existe”.Então o coração não estará palpitando, mas o amor estará; então o sangue não estará circulando, mas o amor estará; então os olhos não estarão enxergando, mas o amor estará; então as mãos não estarão se movendo para tocar, mas o amor estará.
Tome-se o amor! E entre na vida eterna. O amor de repente muda a sua dimensão; você é lançado para fora do tempo e se defronta com a eternidade.
O amor pode se tornar uma meditação profunda, a mais profunda possível. E algumas vezes os que amam conhecem o que os santos não conheceram. Os que amam tocaram aquele centro que muitos iogues não alcançaram. Mas será apenas um vislumbre, a menos que você transforme o seu amor em meditação. O Tantra significa isto: transformação do amor em meditação. E agora você pode entender porque o Tantra fala tanto sobre o amor e o sexo. Por que? Porque o amor é a porta natural mais fácil a partir da qual você pode transcender este mundo, esta dimensão horizontal.
Olhe para Shiva com a sua consorte. Devi. Olhe para eles! Eles não parecem ser dois; eles são unos. A unidade é tão profunda que penetrou até nos símbolos. Todos nós vimos o Shivalinga; este é um símbolo fálico - o órgão sexual de Shiva. Mas ele não está sozinho, e sim enraizado na vagina de Devi. Os hindus daqueles dias eram muito ousados. Agora, quando você vê um Shivalinga, você nunca se lembra de que ele é um símbolo fálico. Nós nos esquecemos, tentamos esquecer completamente Jung se lembra em sua autobiografia, em suas memórias, de um incidente muito belo e engraçado.
Ele veio à Índia e foi ver Konarak, e no templo de Konarak há muitos e muitos Shivalingas, muitos símbolos fálicos. O erudito que o estava levando Ihe explicou tudo, menos sobre os Shivalingas. E eles eram tantos que era difícil escapar. Jung estava bem ciente, mas apenas para amolar o erudito, ficava perguntando: "Mas o que são esses aqui?" Assim, finalmente o erudito disse no ouvido de Jung: "Não me pergunte aqui; eu Ihe direi mais tarde. Esse é um assunto privado”.Jung deve ter rido por dentro. Esses são os hindus de hoje.
Então, fora do templo o erudito chegou bem perto e disse: "Você não deveria ter perguntado diante dos outros. Eu Ihe direi agora; esse é um segredo”.E ele disse, novamente no ouvido de Jung: "Eles são nossas partes íntimas”.
Quando Jung voltou, ele encontrou um grande estudioso - um estudioso do pensamento, do mito e da filosofia oriental -, Heinrich Zimmer. Assim, ele contou essa história a Zimmer. Zimmer era uma das mentes mais bem dotadas que tentou penetrar no pensamento indiano, e era um admirador da Índia e de seus caminhos do pensamento - o oriental, o ilógico, a abordagem mística em relação à vida.
Quando ele ouviu isso de Jung, ele riu e disse: "Isso é bom para variar. Sempre ouvi sobre grandes indianos - Buda, Krishna, Mahavira... O que você relata nada diz a respeito de qualquer grande indiano, mas a respeito dos indianos."
Para Shiva, o amor é a grande porta. E para ele, o sexo também não é algo a ser condenado, e sim a semente, e o amor o seu florescimento. E se você condenar a semente, você condenará a flor. O sexo pode se tornar amor, e se ele nunca se tornar amor, então ele estará aleijado. Condene o aleijamento, e não o sexo. O amor deve florescer; o sexo deve se tornar amor. Se ele não estiver se tornando, não será falha do sexo, mas a sua falha.
O sexo não deve permanecer sexo - este é o ensinamento do Tantra -, ele deve ser transformado em amor. E o amor também não deve permanecer amor, e sim ser transformado em luz, na experiência meditativa, no último e supremo cume místico. Como transformar o amor? Seja o ato e se esqueça do ator. Ao amar, seja o amor - o simples amor. Então, não é o seu amor, o meu amor ou o amor de alguém mais. Ele é o simples amor. Quando você não está ali, então está nas mãos da fonte, da corrente suprema, então você está no amor. Não é você que está no amor; então o amor o tragou, você desapareceu e se tornou apenas uma energia fluindo.
D. H. Lawrence, uma das mentes mais criativas desta época, quer soubesse ou não, era um adepto do Tantra. Ele foi completamente condenado no Ocidente; seus livros foram excomungados e houve muitos casos nos tribunais, pois ele disse que a energia do sexo é a única energia, e se você a condenar e a suprimir, você estará contra o universo e nunca será capaz de conhecer o florescimento superior desta energia.
E quando suprimido, ele se torna feio. Este é o círculo vicioso: sacerdotes, moralistas, pretensos religiosos, papas, shankaracharyas e outros, eles insistem em condenar o sexo. Eles dizem que essa é uma coisa feia. Quando você o suprime, ele se torna feio, então eles dizem. Ve a O que dissemos é verdade, está provado por você mesmo. Veja! Tudo o que você está fazendo é feio, e você sabe que é feio "
Mas não é o sexo que é feio, e sim esses sacerdotes que o tornaram feio. E uma vez que o tornaram feio, eles provam estarem certos. E quando eles provam estarem certos, você continua a torná-lo cada vez mais feio.
O sexo é energia inocente, a vida fluindo em você, a existência viva em você. Não o mutile; permita que ele se mova em direção às alturas - isto é, o sexo deve se tornar amor. Qual é a diferença?
Quando a sua mente é sexual, você explora o outro. O outro é simplesmente um instrumento para ser usado e jogado fora. Quando o sexo se toma amor, o outro não é um instrumento, não é para ser explorado, não é realmente o outro. Quando você ama, o amor não é autocentrado; em vez disso, o outro se torna importante, ímpar. Não é que você esteja explorando - não. Pelo contrário, ambos estão unidos numa experiência profunda. Vocês são parceiros de uma experiência profunda, e não o explorador e o explorado. Vocês estão se ajudando a entrar num mundo diferente, o do amor. O sexo é exploração, e o amor é entrar juntos num mundo diferente.
Se esse movimento não for momentâneo e se tornar meditativo, isto é, se você puder esquecer completamente de si, e a pessoa amada desaparecer e houver somente o amor fluindo, então, Shiva diz, a vida eterna é sua.
HARE OM.
Livro "Tantra, Spirituality and Sex" de Osho.
Site: http://www.humaniversidade.com.br/
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